segunda-feira, 7 de julho de 2008

sobrevivência


sonorização lenta da voz
nazalação do vento
a veia que verte o alento
o vento no ventre vazio
vaiada a palavra o desafio
que induz a alma da poesia

não entendo a sobrevivência
como forma suplementar
de vida

ruas sem contornos definidos
vozes que se esbatatem nos tímpanos
como rumores antigos de rios
edemas e calafrios
um amontoado de rimas
e de risos agora sustenidos
de sem-abrigo
supressões no texto original
que já não digo

sem o logarítmo de um coração
a poesia é feita de riscos na água
que alargando-se só perturbam
levemente as margens
sem um risco na carne o poema morre
porque reúne só sons e palavras
nada arde no estio sem um corpo
sem um rossio de carinho impresso na voz
sem um marulho na palma da mão
sem um rumor de passos
nenhum poema sobrevive
à falta de nexo
ao laço desatado, nenhum poema respira
sem um abraço apertado

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