terça-feira, 15 de julho de 2008
já não sei
as
as palavras mais despidas
são as que gravo sobre o rumor da noite
dedilho-as como cordas
sob o linho bordado na demora
são a minha essência
o meu modo de modelar por ti
a minha alma
costumava dar-te intacta
agora guardo-a
adormeço-a na boca, densa palavra
em clareiras solta e seara rasa
nunca me falas à pele
ao tímpano, ao nome que me nomeia
alva madrugada em teu estio
nem me cruzas por dentro
como um rio afluente do teu corpo
e isso é um facto incontestável
como o é o quanto tanto te sinto
mas já perdi exactamente o que queria
o que tanto estes anos procurava
não era possuir a tua alma
ou possuir-te em exclusivo a atenção
como pode quem muito ama
era algo entre o querer extravasar
para encher e rechear de amor contido
o ténue gemido
e agora claramente já não sei
o que me dizes, já não sei o te digo.
mas atravessas o meu sono
como ave alta e lenta
e soergues o meu silêncio
em asas de borboleta... é tão leve
tudo o parte, porque me enlevo
e me perdi por aqui
e não há nada que nos ache...
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