quinta-feira, 10 de julho de 2008

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imagem minha


corri as ruas, em busca de um sorriso
alguém que me soubesse dizer
onde param as pessoas

queria apenas um sorriso,
mas tinha de vir como candeia
fundo no peito

só assim era sorriso de pessoa
só assim a pessoa era sorriso
não um esgar mais ou menos limpo

corri as ruas de sol em cima
a calçada velha onde os meus passos
pousavam leves
de chinelas brancas
o comércio aberto, velhos lugares
retrosarias e tabernas, lembrando
o tempo dos sorrisos

senti-me livre naquele momento
era eu o sorriso
afinal Lisboa é tão alegre
e tão amena
como uma seara de trigo

afinal o Tejo é um abrigo
o cais que acolhe o sonho
e o veleiro sempre a partir

Lisboa é um sorriso ao meio dia
de Julho

mas foi na frutaria que eu encontrei o sorriso
talvez fosse indiano que eu mal o percebi
mas o miúdo soube sorrir
com um sorriso de oliveira

e foi na velha cantina que eu o devolvi
a uma funcionária reformada de bengala na mão
e foi esse o sorriso melhor que recebi
tão carinhoso...
terá percebido a mancha do meu olhar infeliz?

no quiosque dos jornais surgi já leve
porque a mulher do costume
habitualmente parca de palavras
achou que o meu vestido e eu éramos uma miragem

comprado ontem na loja dos chineses
tem lantejoulas sobre um fundo branco
tecido a linho por mãos precárias
o meu vestido salvou-me o dia

em busca de um sorriso
entre a alpaca do escritório
é nos simples seres que ainda
sabem ser pessoas
que o fui encontrar...

às vezes tenho medo do mundo
um lugar tão sisudo
onde as pessoas até podem gargalhar
mas já não sabem enviar calor
na calma profunda de um sorriso...

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