domingo, 29 de junho de 2008

ledo leito de deleite




agora viramo-nos, há tanto sal a desfazer que a pele sob a boca se exclama como cal. viva. agora percorremos a alma na mesma alameda como se o toque dos corpos fundeasse barcos em bancos de areia. fundas as tuas mãos são as quilhas que me urgentam. agora tu velas a minha boca e os olhos disparam mil chispas. vamos beijar-nos por dentro, tomar-nos por dentro. como numa calçada se cravam os saltos altos e ficam dentro. estás fresco como lima e sabes ao sabor do sonho de uma noite de amor. e eu sei-te na minha língua que muda te muda o centro do prazer do peito para as coxas, de fora para dentro, de longe para o perto, sempre mais por dentro. visto-te, calço-me em ti, mergulho-me no vórtice de águas tão tuas e quentes, lisas de prazer, deixo-me ir contigo em plumas e serpentes. agora tu prendes em densa agonia a virtude do meu ventre e cravas-me de amor no ledo leito de deleite. apetece o fôlego bebido directamente da tua boca, halo de vida hálito de fruta. e a boca re-habita a pele na sua candura. os corpos re-habitam-se na demora da fuga. como eremita aprofundado no seu íntimo, agora fincas-me, agora fendes, agora ficas e me estremeces. agora vacilas e me investes e tudo me reveste de ti, a veste acima, nua na noite sob a respiração tua que me desembarca nos seios. agora esticamos as veias, e vagas vêm velozes entre pernas, ficamos por lá, amenos e túrgidos, como podemos crescer na ponta da pena tanto fulgor, furnas fundas entre pernas e prejúrios ditos baixinho, ouves agora como a noite nos compõe a fala e o gozo nos perdura?