
meu amor, escrevo-te num fim de tarde de pérolas discretas silenciosas a rolar entre os meus dedos, incertas no rumo a dar ao tempo. não sei deter o tempo, espalha-se à minha volta e puxa-me em todas as direcções, o mundo tão extenso e populoso, tudo me detém, e me rasga o nimbo que uma e outra vez começo e recomeço, faço e refaço. tudo me detém a um passo da tua boca, a realidade impõe rumos, razões, eu quero partir sempre de todos os lados onde não quero estar, amarras, amarras, tantas que nos desprendem de nós, quando a vontade de te abraçar me toma, me domina e move... para dentro de nós, amor, no íntimo fascínio. como folhas caídas frondosas, nós somos o húmus que fica após cada ciclo, não temas que o tempo nos cubra e desuna, eu contigo subo ao cume de todas as luas, viajo em gôndolas e faluas, cimitarras tanjo arrancadas ao vento, tudo me urge na boca, em vendavais emoções que estou a perder... mas insisto e venho e completo a frase, e lanço o lenho para que vogue no centro de ti. recolho as horas que hão-de vir e me interpretam o tempo, faço marcha à ré, e aporto enfim num lugar distante, onde o silêncio apenas e tu me ouvem.
até já