sexta-feira, 20 de julho de 2007

levitação


o deserto em volta do meu corpo. não há nada no horizonte, nada que me voe na inclinação do rosto e a solidão afinal não me pesa, pesa-me o corpo. lianas de esquecimento envolvem-me já os dedos. hirtos nas asas, estes rasam o fio sumido das palavras. não sou real em todos os momentos, às vezes sou um lacuna na tarde ou um adjectivo solto na noite em busca de um nome. hasteio-me como um marco na inconstância da paisagem. percorro-me na ausência de vias abertas para o coração das estrelas, jamais o amor me achará curvada ao vento árido do medo, mas achar-me-á sempre demasiado tarde, ou apenas sem tempo. gostava de ser ninfa de águas ou espírito dos rochedos, galvânica presença numa ode de um poeta que tivesse nascido cedo. nesta tarde gostava até de ser uma lápide sem nome, um destino vencido, uma memória indemne e insuspeita de alguém que viu do amor a nuvem secreta.