iria até ao fundo da noite
iria banhar-me na água dos teus olhos
não fosses tu uma acha, um perpétuo lume
iria pela margem das marés
marginava o teu corpo adormecido
como se margina a vida
pelo lado ferido
entraria na pira
para ardermos em flamas sobrepostas
num inferno de perguntas
à procura de respostas
mas não passo
além deste rio prateado de palavras
sinuosos peixes, ondinas naufragadas
a foz que me consagras
é a rusga onde aprisionamos
a palavra
porque é aqui
que vive a madrugada
dos meus olhos sonolentos
aqui que a minha pele
se enlaça nos teus membros
e se ter-te é cozer
a noite e o corpo com
suaves pespontos
se ter-te é imaginar, anelante,
o perfume do teus cabelos
a cicatriz dócil do teu olhar
ainda mais dentro
eu virei mais cedo, meu amor
inuagurar o amor
que sós sabemos cristalino
e frágil longamente denso
porque o tempo tem pressa
de partir e nós ainda agora começámos
a desvendar o mistério da tela
transparente onde as nossas
cenas de amor se perpectuam
docemente...
Boa noite, amor...