desertos alucinantes sopram sobre nós, esta urdida distância. ventos teimosos persistem na invernia da separação, empenhados em tingir-nos o olhar com o sangue rarefeito. quando não te tenho no fundo do corpo, tenho-te suspenso no berço da palavra. embalo e sombreio a tua voz tão ansiada. se tu pudesses um dia falar-me da poeira que extravasas quando me percorres pelo corpo ou pela sombra da palavra. se tu um dia me pegasses na alma, devagarinho, e a bebesses delicadamente, se agora mesmo me entrasses pelo corpo, de um trago, se tu agora... sinto-te no temporal, entre grãos de areia a dançar-me nos olhos, sinto a chama e o chamamento. sinto o pedido encantatório para me entrares no corpo, e é como se uma voz distante me rasgasse a pele em sinuosos rituais de posse. sabes como mover os meus sentidos, sempre soubeste a orientação do meu sangue, tão a teu favor, meu amor, por que me prendes assim dentro de ti?