domingo, 10 de junho de 2007

Chuva de Prata


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águas infiltradas no meu corpo
a cidade cristalina lavada e limpa
as árvores cantantes de verdura
as tuas mãos presas nas minhas
como se fossem heras inseguras

e a chuva mergulha-nos no fundo
do tempo sem segundos nem minutos
que importância tem o tempo
se a chuva é a intemporal medida
de tudo que nos convoca para a vida ?

e como brilham as águas infiltradas
na memória de todas as cidades...
a chuva é um lapso de eternidade
tudo pára quando chove nesta margem
o teu corpo semeia-me, eu fico frágil

lembra o leito empapado a água extinta
as vidraças baças, as bocas famintas
o tecto da chuva cadente na nossa fala
enquanto nos deixamos adormecer
nesta cortina protectora a vida pára
e apenas o corpo se demora

meu amor, a chuva banha-nos
nas lágrimas puras da saudade
deixa-me florir assim pela palavra
todas as memórias que nos tardam
nesta manhã de chuva nos teus braços
todas as rosas do meu peito m' ardem

e eu digo: chuva de prata é chuva frágil
nunca se sabe quando nos lava a fala
com um estro puro de desejo
e depois nos foge numa nuvem
para a distância inalcansável
dos sonhos que deixámos na viagem
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Bom Domingo a quem passar!