sexta-feira, 1 de junho de 2007

Hoje o dia foi de evasão, frente ao Tejo, a ver o Bugio na sua sólida solidão, a sua vulnerabilidade, o triste marasmo do céu nebulado, a barra sul e os seus baixios, as gaivotas lestas nos rochedos, o sol a piscar, e o mar em rugidos de Adamastor nos bancos do cais... Dia de ver os barcos de ir e os de voltar, os veleiros na marina como eu, à espera de partir e deu-me então uma vontade marinheira de zarpar nas caravelas da pimenta, para outras terras sem regresso à vista a esta vida tão cinzenta. Ver terras distantes, ilhas aromáticas, exóticas flores, floridos recantos, gentes, marcas, artefactos, magia e encanto. Depois lembrei-me das raízes, as pequenas raízes que me prendem e pareceu-me que a melhor forma de partir com algum rumo era ficar onde vou cultivando o futuro e o sonho... e à cautela fugi do mar, o mar quase sereia, o mar mareante, a fresca redenção que renova e nutre o sangue. O mar. As caravelas da pimenta... Voltei à correcção dos testes e a realidade enlaçou-me de rompante, numa aparição da minha estreiteza e isolamento, uma espécie de farol do Bugio, presa ao presente...
Ah, ser eu e ser outra no mesmo instante...