Desenho da Maria João
(obrigada!)
em:
http://tintasolta.blogspot.com/
e eu agora vou, desculpem, mas não faz mal eu ir
pois nunca estive e como pode ir quem nunca foi?
não faço barulho, irei tão devagar como cheguei
prometo que não desarrumo os vossos cabelos
ao passar, nem seguer levo comigo palavras essenciais
desculpem se não consulto oráculos
nem desventro aves para ler nas vísceras
os obscuros sinais, na verdade partir ou ficar
é algo igual por demais igual para me importar
pois como se pode ausentar quem já se foi
se até um corpo pode infiltrar-se nas areias
quanto mais a água e a sede e a palavra amar-te
deculpem se estive sem ser e se fui o que não sou
deculpem se roubei o sonho da árvore do conhecimento
desculpem a serpente e algumas maçãs também
desculpem se fui noite às vezes e se fechei a tarde
dentro de quatro paredes
desculpem se ocupei a manhã em prol dos meus sonhos
e se atravessei a nado um comboio rumo à lua
e se me fiz dona do sol em alguns dias, desculpem-me a ousadia
desculpem se enganei e vendi cardos em vez de poemas
desculpem se os meus cabelos não chegam aí
e se o deserto é este vazio que começa na palavra
e acaba no corpo profundo mergulhado em páginas de areia
desculpem se escavei fundo
onde se diz que jaze uma civilização de loucos atlantes
tesouros e estranhas melopeias - desculpem os grãos de areia
desculpem se incendiei o deserto e agora só há
este rasto de fumo azul dos antigos beduínos solitários
sombras em fuga às cidades perversas industrias e feias
desculpem se voltei a ser Sara e mais uma vez olhei
de frente a cara lavada da felicidade no fundo limpo
de uma tela branca e plebeia, onde eu cabia como árvore
e onde árvore me urbanizei
desculpem as raízes, as rosas enssombradas que deixei
desculpem, se me desfiz em salsugem na fria aragem
fui tudo e tão breve fui que em nada me esgotei...
e eu agora vou, desculpem, mas não faz mal eu ir
pois nunca estive e como pode ir quem nunca foi?
não faço barulho, irei tão devagar como cheguei
prometo que não desarrumo os vossos cabelos
ao passar, nem seguer levo comigo palavras essenciais
desculpem se não consulto oráculos
nem desventro aves para ler nas vísceras
os obscuros sinais, na verdade partir ou ficar
é algo igual por demais igual para me importar
pois como se pode ausentar quem já se foi
se até um corpo pode infiltrar-se nas areias
quanto mais a água e a sede e a palavra amar-te
deculpem se estive sem ser e se fui o que não sou
deculpem se roubei o sonho da árvore do conhecimento
desculpem a serpente e algumas maçãs também
desculpem se fui noite às vezes e se fechei a tarde
dentro de quatro paredes
desculpem se ocupei a manhã em prol dos meus sonhos
e se atravessei a nado um comboio rumo à lua
e se me fiz dona do sol em alguns dias, desculpem-me a ousadia
desculpem se enganei e vendi cardos em vez de poemas
desculpem se os meus cabelos não chegam aí
e se o deserto é este vazio que começa na palavra
e acaba no corpo profundo mergulhado em páginas de areia
desculpem se escavei fundo
onde se diz que jaze uma civilização de loucos atlantes
tesouros e estranhas melopeias - desculpem os grãos de areia
desculpem se incendiei o deserto e agora só há
este rasto de fumo azul dos antigos beduínos solitários
sombras em fuga às cidades perversas industrias e feias
desculpem se voltei a ser Sara e mais uma vez olhei
de frente a cara lavada da felicidade no fundo limpo
de uma tela branca e plebeia, onde eu cabia como árvore
e onde árvore me urbanizei
desculpem as raízes, as rosas enssombradas que deixei
desculpem, se me desfiz em salsugem na fria aragem
fui tudo e tão breve fui que em nada me esgotei...
Para ouvir:
http://www.youtube.com/watch?v=wa_lkpBVkXU
http://www.youtube.com/watch?v=wa_lkpBVkXU