era o rio ardendo no cascalho
e depois o caudal galgando as pedras
até à foz em que o silêncio se espalhava
era a corrente impetuosa
desferindo golpes nas escarpa amordaçada
até quebrar a dureza das palavras
era o silêncio no coração das águas
remoinhos de vésperas
nunca tão doces celebradas
era aquele mármore de algodão depois do amor
Recordas como a tarde nos falava?
era o rumor único do vento
nas margens secas despenhadas
o canto alucinado das cascatas
o silêncio azul maravilhado
onde pastavam os teus dedos
depois de descermos juntos
o caudal do rio arrebatado
momentos estes eram sempre
a medida exacta das estrelas
na mão aberta que descai
litanias estas de frágeis contornos astrais
digo o teu nome e tremo
sinto o teu corpo e sei-me
a paisagem quente deste outono
numa noite de infinitos siderais
sim - palavras cravejadas de silêncio
nas doces águas soltas flores deste meu reino
e no teu olhar dois unicórnios
guardam o meu sonho que lavro sereno
porque te amo sou estas águas
mansamente despenhadas plenas
explodindo na boca como magma
sempre que juntos mergulhamos
nesta troca irreversível das línguas e das almas
18 de nov. de
2004