Estar contigo, fechar os olhos e não falar e de novo voltar a fechá-los e não dizer. Fechar os olhos entre rosas e rumores. Estar contigo, enbranquecer todas as ideias afastar os escolhos e cobrir de areia toda a fala, encher os plumões de amor, voltar a fechar os olhos e tapar a voz. Não dizer uma só palavra e estar contigo, eleger a árvore, eleger o livro e pendurar o sol no postigo da casa da manhã e, se chover, pendurar o fogo na lareira onde ardem paixões, ou deixar a chuva penetrar a pele, beber toda a água e chover sobre as rosas e os murmúrios sem proferir um som. Molhadamente ser. Atrasar o relógio para o ponteiro do sempre, e ficar crisálida, casulo mate, os membros dentro sempre das axilas da casa. Não digas, a chuva fala-nos dentro do ouvido, a chuva prende-nos por fora, a chuva prende-nos por dentro a chuva é densa a pele é tensa e bebe, bebe a chuva silenciosa pelos membros. Não fales, não digas, estar contigo aquece tanto, estar contigo é uma manta, apetece que a chuva estique o leito, as ancas brandas, e nada na chuva canse de correr veias adentro, cega a chuva desce-nos, nomeia-nos seus filhos dilectos, para nós um parentesis curvo na chuva e no tempo. Meu amor, estar contigo é este poema, entrar pelos teus olhos e caminhar até ao fundo do mar, dar-te os meus onde mora um deserto escuro e denso, talvez um hectar de terra a semear, semeia os meus olhos, meu amor, irriga-me a retina, a ruga sem poema, passa pelos meus olhos e aplana o que puderes, o dia chama-nos, deixa que os olhos digam o que não pode já dizer a fala. Fecha os olhos entre rosas e rumores. E plana entre a árvore e o corpo, o tronco a rama, as gotas no limite da queda, suspensas palavras, ama, ama, a chuva é uma chama.