quinta-feira, 5 de abril de 2007

trainera ao sol posto


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que águas secretas douradas sonhei eu e em que mês?
que guitarras estouvadas cantavam para mim e para quê?
que pombas se punham a meus pés cansadas de morrer?
quantas vidas vivi e só esta me dourou o olhar assim?

é Abril e o mundo empurra os dias em diante
hoje é apenas mais um dia e tudo parece acelerar
de encontro às partículas do universo
ao musgo ao pólen ao pó imenso do deserto

estou solta deste lado das estrelas
alguém me prometeu a luz e me puxou o brilho
escrevo versos sem tino num velhíssimo papiro
papel que se abre e num minuto expira
um minuto de leitura e uma vida que se esgota
sou uma trainera a arrastar palavras ao sol posto
e ninguém me detém nesta minha cega rota