planície entreaberta
este deserto alado
da cidade aérea
mil pirilampos etéreos
ungem a distância
uma febre de luzes
atrás de outros horizontes
alagados de silêncio
ouço-te a voz
e não te conheço
enganei-me, por certo,
a tua voz é sempre doce
é o lago mais sereno deste deserto
este cenário emocionado
numa noite suspensa em fios de prata
lembra-me
que as tuas cartas já me tardam
só elas te autenticam
tão tarde, mas seladas
com a inflexão do amor
só elas me interessam,
os teus passeios de papel
os teus sonhos de papel
a veia aberta no teu sangue
quando me escreves
à luz das noites duradouras
e douradas, em que as estrelas
se demoram mais na curva
da estrada
sei que és tu nas tuas cartas
pela marca de água
que te leio na voz
como um timbre de cobre
secreto e íntimo - nós
podia ser seda
e sedução, mais ainda, sopro de luz