domingo, 20 de março de 2011

um timbre de cobre


planície entreaberta
este deserto alado
da cidade aérea

mil pirilampos etéreos
ungem a distância

uma febre de luzes
atrás de outros horizontes
alagados de silêncio

ouço-te a voz
e não te conheço

enganei-me, por certo,
a tua voz é sempre doce
é o lago mais sereno deste deserto

este cenário emocionado
numa noite suspensa em fios de prata
lembra-me

que as tuas cartas já me tardam
só elas te autenticam
tão tarde, mas seladas
com a inflexão do amor

só elas me interessam,
os teus passeios de papel
os teus sonhos de papel
a veia aberta no teu sangue

quando me escreves
à luz das noites duradouras
e douradas, em que as estrelas
se demoram mais na curva
da estrada

sei que és tu nas tuas cartas
pela marca de água
que te leio na voz

como um timbre de cobre
secreto e íntimo - nós

podia ser seda
e sedução, mais ainda, sopro de luz