terça-feira, 1 de março de 2011

ervanária

finíssimas hoje as ervas entrelaçadas
em copulativos verbos de heras e de cheiros
em chá de raríssima felicidade

entra o silêncio como figurante

escondido no vão da noite, irá passear-se
pelo quarto até se derramar pelas tábuas e não sobrar
mais nenhum estilhaço de mim

vaporizo a palavra para que se afine
e sintetize na essência das coisas
urgentes de dizer

convoco as rosas e os ritos raros
os odores de finíssimas ervas

e os vapores lembram baunilha e alfazema,
cavalinha e manjericão,
malva, salva
e dente de leão,
artemisa e sabugueiro, cidreira
gengibre, hortelã


são doces as doses de sublimação
que sustentam os sentidos
quando retenho, expando, expiro
e exprimo a tisana que te diz do amor

e que prende nos lábios a doçura do dizer
e que acoberta no ouvido a perturbação
de ouvir dizer o que de amor se diz
nas noites de chá, sonolência,
dilúvios de paz e de um cálido anoitecer