terça-feira, 29 de março de 2011

ao fechar da noite

a esta hora todas as luzes terminam o seu turno
nada se depreende da escuridão
a não ser mais escuridão

a esta hora o sono disputa-me
e a tua presença retém-me
como se soubesse que ainda podia vir
um pouco de emoção

resisto-me e venço-me
refaço o caminho da tua casa
e regresso com um punhado de calor

refresco-me e renovo-me
e quero mais; fico à espera
mas a noite já foi

e tu vieste cumprir a hora
num cavalo fatal de dorso descoberto
foi tudo tão rápido
um jacto de tinta
na fuga de um verso


e eu ainda espero a revelação
uma esmola simples
algo como a tua mão

apenas os traços bastantes que te apontem
sem coordenadas e sem nomes adicionais

o mistério é apenas não saber
como brilham os teus olhos
e de que cor é a tua tez de esmalte

o mistério é ver-te e sonhar-te
outra coisa será sonhar-te e saber ver-te
tenho de ter a certeza de que existes
como eu te vejo, uns olhos de porcelana
e um realejo ao fundo

de resto, aquele a quem já me entreguei
para mais me aproximar
dizendo-lhe tudo (ao ouvido) tudo
sem sequer falar