domingo, 13 de fevereiro de 2011

vai pelo deserto, rasga o ventre das areias
e revolve as rochas
realiza com as tuas mãos o prodígio
em novos buxos de poemas
que a aridez doura de arinto
e outros sabores que à uva crestam
de novo

deixa que o verso seja longo e prolongado
e de sintaxe agreste
só os versos arrancados à terra seca,
lá fundo,
onde a terra guarda seus sais e seus fios de água leve,
só esses subirão aos céus numa nuvem breve
e se esfumarão nos olhos de quem os replanta,
em nova terra,
até que um rebento ouse a bizarria de viver
nas terras bravias onde nada há que medre
e se sustente

assim e só assim, haverá canteiros no deserto
e estes darão rosas mais que os cardos
e o gengibre, que na boca amarga e doce emerge,
será como ter rosas e lírios
entre as sebes das cidades mais serenas e mais férteis

é preciso mudar o lugar das coisas, para evitar a submersão
em ondas de pó, a poeira cansada do deserto

gosto de novos lugares, como da chuva amena que me cresce
gosto da nova inflexão da tua voz: por onde andaste
eu não te achava, estando só. este é o deserto que
me demora na escrita reunida sob os ossos

e assim me és, novidade e cintilante pó


.