sábado, 11 de dezembro de 2010

arruma, aspira, lava, esfrega, encera, limpa o pó e passa a ferro e então corta as batatas, as cenouras e a abóbora, o feijão verde e a beterraba, afaga os bifes, corta os alhos e põe ao lume e faz salada e mais esparguete e maçã assada e depois arruma, lava, limpa, muda os lençóis, faz uma cama, outra, e depois outra e outra ainda e lava a roupa e estende a roupa e quando vai para dobrar as meias, num aconchego de sofá e aquecedor, frente a um filme qualquer, (hummm, a casa iluminada pelas velas, o odor da limpeza e da cera,  o paraíso à sua espera, talvez cabeceie numa dança etérea pelo tecto do mundo), eis que lhe declina o dia na cara, e o jantar à sua espera e o banho enfim, enquanto a pizza assa e só depois então, já noite cheia, procura o que o dia lhe roubou e percebe que ainda não acabou. nunca acaba. talvez um dia possa parar para pensar, ou para escrever, ou para dormir, ou para sonhar... tudo que for, será certamente um dia e é a antecipação do que pode vir a ser que viabiliza o que agora é. deita-se e ler um livro, mas a frase fica a moer na cabeça e é lida uma e outra vez,  sem conseguir avançar, porque o cérebro algures desperto avisa que não houve entendimento. quando o livro cai, solta-se enfim na extensa fidalguia da noite e não faz nada, nada, nada, a não ser sonhar que o tal dia já chegou.