terça-feira, 9 de março de 2010

silêncio assimilado

assimilo o silêncio na calçada
quando ruidoso e anónimo
um ruído de passos indistintos
me trespassa

assimilo a razão das coisas
mesmo as que não ouço e não entendo
assimilo o momento
assimilo a lente e a imagem
e a palavra que vejo morrer longe
para não ser almejada

assimilo-me
no silêncio e sou a duna
onde só o pó se agita e se dissipa
desde que o vento me caminhou
como uma brisa imprevista

assimilo as linhas do silêncio

cosem coisas sem forma demarcada
apenas enclausuram as palavras
que nunca foram rosas admiradas

assimilo as rimas do sangue
esventram palavras amplas
prolongadas

faço deste sol uma capa
um halo azul, uma nuvem suavizada
e devolvo-me nela,
inteira e vária,
ao silêncio desta tarde