segunda-feira, 20 de abril de 2009

ventos alísios



ventos felizes, alísios breves e brandas brisas
os adjectivos são asas de vidro
ligeiros gritos, voz de mirtilo,
cantos floridos nos olhos lisos

nada que eu diga me faz sentido
só esta brisa bastante brisa
só este abrigo, bastante abrigo
só esta pele de pano liso
piano cálido afável grito
uma existência sem conto ou culto
sem paixão presa, ou solto riso

nada que eu diga
sabe dizer o quanto oculto
o quanto apago, o quanto expulso
o quanto a minha voz esconde
o quanto o sono é neve doce
e a vida cresce
sem que haja um som capaz de
me exultar na boca

mas,enquanto à minha volta a vida vence...
qualquer gesto humano me engrandece

sinto que me perdi na ilusão de ter-te
e agora nada é claro: basta a brisa que banha a tarde
basta a noite que banha a alvorada
basta a manhã que banha os dias:
viver, é quanto me pede a poesia!


.