meu amor, é tão forte o laço, tão vasta a liça em que nos armamos que eu já não sei se às vezes caio porque caíste, ou se é porque sonho que caí e me julgas queda que tanto caio a pique no labirinto da nossa distância. nessa distância onde nos sentimos irmãos da dor, viúvos da fala, veteranos do sonho. e sentimo-nos: um sopro de vento no deserto, neve que cai nos polos, riso que lances, brisa que me molha, pranto que vertas água que me alcança. e tu sentes-me. sabes-me diferente. não entendes onde nem como a lança me passou ao largo. e eu não sei se sou eu que sinto, ou se sou espectadora de um lanço armado pelos reflexos dos sentidos. mas, sabes, meu amor, desta vez foi prodigioso o teu sentir. o negro lume cerra-me por vezes e não é urze que me venha de ti. perco-me de mim mesma, na distância que me separa da vida. não me conheço nesta liça, sem armadura, nem elmo, nua face a uma escuridão que adivinho para lá da serra. um dia poderás ter de me pintar o mundo com palavras que cheirem a tinta e a rosmaninho. palavras que sejam açucenas ou papoilas, porque as cores poderão passar a ser pura eleição da memória, debotadas, escuras desfocadas, invertidas... lembrar-te-ás de me ensinar de novo as cores, um dia?
querido, estou bem, nada tenho a temer, a não ser a curta duração da vida para o tanto que te quero ter. aproxima-te mais. não te ouço bem... inclina-te mais e fala-me das coisas que não queres dizer... agora, na sombra, no silêncio, na intimidade do nosso uno ser...
beijo-te docemente, meu príncipe...