escrevo-te de um deserto familiar, onde a serenidade minha contrasta com a ventania que varre o horizonte. chicotadas de areia, ervas secas pelo ar, a roupa a enlouquecer no estendal. um concerto lá fora e eu aqui dentro a deixar escorrer a tarde no repouso da luz. tenho em conta a raridade destes momentos e vivo-os a fundo. não me sinto só já há tanto tempo, talvez porque sem nos pronunciarmos juntos, juntos nos confirmamos sem ser preciso saber. e é por estares aqui ao abrigo da ventania que o meu ombro se enternece da tua proximidade. quantas notas dançam no vento? ouves? ficamos aqui a contá-las tecendo entrementes a amplitude dos silêncios que ficam entre lábios. talvez possamos adormecer, sem sobressaltos, sem termos de sonhar que buscamos o lugar do amor... hoje o amor está no seu lugar. dentro de mim... tão preso que bem pode soprar o vento que eu não o deixo voar.