sabe que há um mistério azul
na alvura da tua palavra
uma espécie de meada em desalinho
que minhas mãos recorrem matutinas
em busca do filão da seda e do sentido
que desenrola lentamente
o presente o passado e o futuro
ante nossos olhos sinuosos
há um nó na tua boca quando falas
uma ave sempre pronta a partir
na estreita vala da madrugada
tudo que me dizes cresce fervorosamente
na terra arável do meu corpo
a rosa laminada roça entre nós
de novo
há tanta atenção no teu sangue
que o meu ouvido recrudesce
na ampla emoção da tempestade
a lenta chuva o lento gesto
tudo dormente em nós desperto
meu amor, tu és um lago quente
em cujas águas banho meus ossos
perfume do oriente poente próximo
precedes-me atento e eu sigo-te
em silêncio num cântico só nosso...