desertos humanos onde nos sabemos sós
onde nos circundamos, circulamos e cerceamos
em dunas de pó quotidianas as dádivas
e vivas marés de inesperadas mágoas
percebo agora que a solidão sou eu
e a sóbria ilusão das minhas fábulas de amor
tendo-as em fermento de afecto
como massa que infla e extensivamente coze
aromatizo a retina e cozo o pão na palavra
e tudo em ti apenas se inclina... tudo em ti aceito
e sou serena na semântica que escorre desta pena
validas-me como um recreio, recrias um amor
como um laminar momento de densa loucura
talvez siga os grãos que o vento dispersou
talvez arregimente o meu tempo para sorrir
e ser igual a ti nos voos que o vento prediz
luas douradas ainda virão, estarás no palato
no momento híbrido do corpo e da oração
existo em tudo que digo e dou, dou tudo
na imensidão aberta do meu segredo
secreto amor vieste tarde e não soubeste
entender a doação, esta sensível veste do amor
a que te dispo em palavras rubis e serpentinas
pois repetes o descuido que é incúria e abandono
temporizo a vida em passos juntos mesmo que
sejam passos mudos e pequeninos mas,
quando só um escava e quer o oásis e o semeia
é porque o deserto e não o amor nos ombreia!