quarta-feira, 4 de julho de 2007

nubente poesia


terei um dia saudades destas noites
o céu cerrado e mudo
um peso levíssimo no meu peito
a noite da cidade adormecida
ao longe só luzes e perto
algumas árvores sem vida
eu páro o carro no passeio da praceta
ninguém me vê chegar
ninguém me ajuda
e eu subo o elevador vergada
pelo peso do dia em plúmbeo
silêncio

tão tarde e eu ainda vivo
tão longe o início do mundo
às vezes uma chuvinha miúda
poalha luminosa das estrelas
tão fundo desço quando subo
e abro devagar as persianas
do teu rosto...

ainda hei-de sentir falta deste lastro
a noite como um deserto luminoso
a liberdade a passar-me as mãos pelo corpo
tenho pressa do teu olhar
e tu do outro lado do mundo
atento e absorto

a rotina tem rodado pelos dias
as certezas e constâncias
são lentas agonias
mas eu chego e sonho que tu me
ouves e todo o véu da noite
nos descobre na nudez da
nubente poesia...


boa noite!