Intimamente a verdade assenta-me como uma luva.
Calço-a e nada acontece. A noite segue o seu percurso
e eu sem ver ninguém no perto do longe, sigo o mundo
até onde me levem os meus sapatos vagabundos. Endoço-me
à verdade que carrego pelas ruas, sem abrigo que sou dos
meus próprios desígnios. Todo o silêncio deste deserto
me acolhe na sua manta fria. Depois da casa nas dunas
não haverá mais ninguém para escavar as areias que habito.
Serei esquecimento e estrume, depois de ter tocado com
o céu da boca o portal do céu. Incendiei-me nas alturas
como um pássaro de fogo excessivo no combustível das
mãos. E a verdade é um abraço conhecido. Jamais é a palavra que
abraço no meu leito de luto. Encontrarei sempre
a minha sombra no limite de tudo. E eu já sabia.