quinta-feira, 28 de junho de 2007

lugares das trevas


mãos fantasmas me lavam como rosas
meu corpo em lua
consente o fogo
em que me gozas
a asa rubra de uma pluma
a crina solta
a lágrima aflita
busca o beijo onde a maldição
se conjura e multiplica

perguntas, lugares das trevas,
de onde vem a vaga
a húmida serpente?

sim, admito o teu poder
uma mão de ferro que me fere
e funda sob as tuas mãos ocultas
a tua mão rasa a pele e rasga o selo
noutro mundo ancorada
a nota aguda o claro desejo

admito a minha força
na mancha azul da penumbra
eu me distendo e estendo
na contensão do risco
que quero lento e agudo
pelas unhas

lavras as razões do corpo
no meu ventre cravejado de doçura
eu solto a pauta
acendo um candelabro
no silÊncio do teu corpo

e as duas vontades
juntas rasgam fundo

sim, admito
não te anuncias pelo corpo
o teu lugar não é do mundo
as catacumbas do presente
vazias vomitam morcegos
o teu lugar é o passado a cicatriz antiga
a renda empunhada
o entardecer obscuro da pele
que absorvo no sangue puro mel
sim, existes,
sente o grito
em que me clamas
tua serva concubina
sou a mesma vontade que te
prende na penumbra
a palavra e a ilusão
que buscas

sim, partimos juntos
e tu perguntas,
lugares das trevas
de onde vem a vaga
a húmida serpente
a morte que nos reúne
e nos renasce sempre?