sábado, 19 de maio de 2007

o quarto


o quarto batido ao vento, o quarto atento ao ruído dos teus passos, peço ao firmamento um lugar no céu para amar-te dentro e espero. quando chegar enfim o nosso tempo, a galáxia que nos separa será do tamanho de um segredo suspirado ao ouvido, tão perto que bem podia vir de dentro. e eu estou à espera do nosso tempo, que ele evenha numa daquelas noites em que tudo à nossa volta é intimidade, até a massa de cabelos revoltos sobre o travesseiro, até o volume do vento, até o cansaço nos parece íntimo e perfeito. uma noite como esta, não fosse o quarto incompleto no meu corpo, perto a flor do desejo e a raíz tão longe, e o desejo é apenas um bolbo plantado no sangue, corre-nos e percorre-nos em busca de terra e esperança. o quarto move-se ao teu encontro, é cedo para a morte, tarde para a vida, o quarto encontra-te a meio da subida, tu harpejas razões modais para a renúncia, não entras no quarto porque as paredes são os meus braços e a cal queima as tuas nódoas antigas. o passado alcança-te mais cedo e eu tremo porque o quarto é frágil e todo o perímetro te quer. o quarto é a minha vida e a minha vida é circular, elíptica a forma do meu desejo, elíptica a tua mão a traçar-me versos, a vaguear-me o corpo, a minha vida é um lugar desatento onde me atentas secretamente.