
nunca o silêncio foi maior
bate-me no fundo e sobe à garganta
para morrer à desfilada
ao encontro de ti
é um silêncio de olhos
quando o filme fica a correr
e a imagem não corre
basta-me desfocar a tela
para te ter onde mais me chamas
aí mesmo, muito longe,
no fundo do tempo em bátegas vermelhas
é assim que te combato e defendo
quando entro na muralha dos teus olhos
é destas noites que o meu lençol se tece
no abrigo de verdades tão intensas
como esta comoção simples
de estar daqui a ver-te
a gastar o meu sono para
te deter entre dois acentos
na aguda ausência que é escrever-te
esta solene arte de manter-te
solto em mim no lugar do morto
um dia não, outro dia sim
talvez a morte seja súbita e eu nem a veja
ou me apareças já embalado
e pronto a chegar,
partindo no momento de não ir
puxo-te ao meu peito nestas noites
e prendo-te dentro, tão dentro
que quase te respiro a voz
o teu desejo
a película sonora dos dedos
que crepitam nas teclas nomes
sem nexo, porque nada vejo
é nestas noites que me embrulho
no teu corpo, repito-me de novo
chego-me ao lume e segredo o mel dos deuses
não sei se me ouves ou se me entendes
mas trago os teus olhos na boca
e as minhas palavras são licorosas
limpas e decentes
quanto te ofereço o que tu,
com o teu jeito esquivo,
me soubeste revelar profundamente
viste-me e eu fui vista
e soube-me a um rubor adolescente
baixei os olhos e não mais esqueci
quem me limpou as sóbrias lentes
para poder olhar o enlevo do mundo
de mãos nos bolsos e coradas faces
fomos subitamente próximos
como quasares palpitantes
sempre em qualquer mapa em que surgisses
ia ter à tua caligrafia
e ao dobrar a letra reconhecia-te
se te busquei no fundo das areias
ou nas cidades
se hoje te busco a meio da madrugada
é só para poder continuar
a ver o dourado dos poentes
sem ficar sozinha no centro da perplexidade
e tu não saberes que vi em tal dia
aquele poente aquela vaga nostalgia
e ser tão profusamente verdade
e tu não estares e a ninguém tal interessar
porque entre nós rasam distâncias semelhantes
para onde o mundo pende ou pára
e nada que veja tem a coragem de existir
se não for para te mostrar como tudo na natureza
e em nós pode ser tão raro e feliz
bate-me no fundo e sobe à garganta
para morrer à desfilada
ao encontro de ti
é um silêncio de olhos
quando o filme fica a correr
e a imagem não corre
basta-me desfocar a tela
para te ter onde mais me chamas
aí mesmo, muito longe,
no fundo do tempo em bátegas vermelhas
é assim que te combato e defendo
quando entro na muralha dos teus olhos
é destas noites que o meu lençol se tece
no abrigo de verdades tão intensas
como esta comoção simples
de estar daqui a ver-te
a gastar o meu sono para
te deter entre dois acentos
na aguda ausência que é escrever-te
esta solene arte de manter-te
solto em mim no lugar do morto
um dia não, outro dia sim
talvez a morte seja súbita e eu nem a veja
ou me apareças já embalado
e pronto a chegar,
partindo no momento de não ir
puxo-te ao meu peito nestas noites
e prendo-te dentro, tão dentro
que quase te respiro a voz
o teu desejo
a película sonora dos dedos
que crepitam nas teclas nomes
sem nexo, porque nada vejo
é nestas noites que me embrulho
no teu corpo, repito-me de novo
chego-me ao lume e segredo o mel dos deuses
não sei se me ouves ou se me entendes
mas trago os teus olhos na boca
e as minhas palavras são licorosas
limpas e decentes
quanto te ofereço o que tu,
com o teu jeito esquivo,
me soubeste revelar profundamente
viste-me e eu fui vista
e soube-me a um rubor adolescente
baixei os olhos e não mais esqueci
quem me limpou as sóbrias lentes
para poder olhar o enlevo do mundo
de mãos nos bolsos e coradas faces
fomos subitamente próximos
como quasares palpitantes
sempre em qualquer mapa em que surgisses
ia ter à tua caligrafia
e ao dobrar a letra reconhecia-te
se te busquei no fundo das areias
ou nas cidades
se hoje te busco a meio da madrugada
é só para poder continuar
a ver o dourado dos poentes
sem ficar sozinha no centro da perplexidade
e tu não saberes que vi em tal dia
aquele poente aquela vaga nostalgia
e ser tão profusamente verdade
e tu não estares e a ninguém tal interessar
porque entre nós rasam distâncias semelhantes
para onde o mundo pende ou pára
e nada que veja tem a coragem de existir
se não for para te mostrar como tudo na natureza
e em nós pode ser tão raro e feliz
Boa noite!