terça-feira, 2 de novembro de 2010

estendo as minhas mãos para te alcançar, eis a minha voz muda e o meu olhar que ronda a distância. perco-te no gume dos silêncios, nas saliências de onde vislumbro o outro lado das palavras. meu amor, se as tuas mãos me desenhassem os teus dias, os teus momentos, se me falasses na brevidade dos instantes e nas essências bravias que encontras no teu tempo... busco indícios de luz, lume nas flores, rotas magníficas nos dias que me enchem de páginas vazias, secas, rugosas, áridas. escrevo-te porque me alcançam vagas fundas de nostalgia de nós que nunca fomos e, por estes dias de declínio, declaro intacto o fervor da minha solidão em favor da tua. meu amor, as tuas mãos, que encontro nos meus sonhos, povoam a escuridão do mundo, quando me busco e não vejo senão a distância, essa estranheza de não existirmos, um estado em que alguma razão, cuja raiz já não descubro, nos declarou ausentes, quedos e retraídos. meu amor, o tempo adquire estes altos contornos de melancolia, um silêncio assente nas nuvens e eu assisto à conclusão do mundo, na feérica luz da tarde inútil, contando este pulsar de exaustão, de saudade, de nostalgia, de tudo...