o amor é um lugar
impermanente
como a neve
que se junta nas encostas
e vem em voltas na vertente
para subir
etereamente leve
como água pura da nascente
o amor é perto, é logo ao lado
o amor é dentro e fundo, é lage apetecida,
é um velho artefacto construído
pela vontade de lhe dar vigor e vida
é uma força forte que comanda
o sangue, o frio e a solidão
o amor nunca acaba, só se desprende,
e deixa que a corrente enfim nos leve
nos seus braços de gelo,
na paz do apagamento
quem o busca longe encontra só
quimeras, devaneios, fugas e medos,
ilusões breves e alguns receios
então o que é profundo e nos deriva
ancora no coração dos areais
são fortes rochedos sem faróis
arestas dos mares da ilusão, sombras de nós
e, com a ternura nas mãos, tão assustados, ficamos nus
ungidos pelo vento, frágeis seres, árvores frondosas,
de nós e apenas de nós mesmos, separados