sábado, 18 de setembro de 2010

A casa

A casa está aberta, é apenas mais uma noite sem história, nem sei se as estrelas nos alcançam ou se viajam astros misteriosos onde dantes os ficávamos a olhar, persuadidos de que só juntos viveríamos plenamente o nosso tempo. Não entro assim tão dentro, basta-me olhar pela janela o reflexo da casa que fomos, nós dois ainda desenhados na sombra, inclinados para a intimidade, sóbrios de encantamento. Apetece-me escrever-te, penso. Escrever é acompanhar o tempo, medir-lhe a velocidade, os socalcos, as ravinas, as brandas planícies. Quando não escrevo, é porque o tempo não me afecta, nem nenhum traço rasura os meus dias. A realidade, que sei segura e lapidar, substitui a penumbra onde dantes te procurava. Já não sei encontrar-te. Fico de fora a olhar para dentro de ti, a casa.  E  há um movimento pendular que me hipnotiza. Dentro do teu olhar. O inesperado lugar de ti, quando falas, como se a voz te sucumbisse ao peso das profecias. Diz-me, qual é o país dos teus sonhos, a realidade nova que subtrais aos teus dias?