madrugadas, doces harpas

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há noites aquáticas
noites abertas ao mais leve som
o último comboio parte sem aviso
um vento raso roça o travesseiro
frágeis presianas escondem os navios
que a névoa leva até ao Tejo
e tudo é líquido na palavra
até o silêncio de estarmos sós
até os pingos cadenciados
de uma torneira acordada
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sentimos sem ver
os trémulos reverberos das árvores
parecem vultos de gente que chegou tarde
ou não chegou a partir e espera o rumo
o lado, o sentido da viagem
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sob os candeeiros urbanos
venteja o manto do sonho
e nessa jangada cega em que nos pomos
o amor apanha-nos com mão traiçoeira
e prende-nos à noite pelos cabelos
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e há castelos e ameias

e prantos de donzelas de cambraia

e rendas secretas nas alcovas
já só os astros nos detêm de subirmos
a pele é uma nuvem à deriva
e tudo lembra em cada sombra

pressentida

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mesmo os sons que não têm

forma definida como a fala, a voz

as mãos e o sorriso, vêm à vela

e desembarcam atrevidos
nos lábios perigosamente contagiosos
do amor que o corpo abriga
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e nestas noites de frágeis harpas
só temos o abraço da madrugada
para fechar as pálpebras das estrelas
e encontrar enfim ao nosso lado
o amor mudo e maravilhado
num sono profundo e feliz
e a manhã sem saber já nos seduz


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Bom dia!