domingo, 13 de fevereiro de 2011

a noite avança pela claridade dos minutos
não sei quantos se acrescentam a cada ponteiro
para chegar ao infinito

fazer da poesia a vala comum
(de duas vidas) é um espelho partido
que seguro nas mãos
e me reflecte mil rostos
e mil e um versos absolutos

nas minhas mãos em estilhaços
há uma serena novidade
que de doce e difusa
me planeia recatada e viva
e me assusta

por detrás das cortinas altas
e dos chapéus inclinados
estão palavras que admiro
que me fascinam e me realçam
mas me contraem

sempre foi assim desde o primeiro dia
sou cada vez mais o meu próprio lugar
e a minha própria melancolia, se não souber
que face iluminada mostra a lua


espadas lançámos já e setas desferimos?
de que lugar antigo nos trazemos
que conchas e búzios recolhemos
que palacetes e quartos erguemos, destruímos,
erigimos?


a noite avança pela claridade dos minutos
e eu enceto e adio a minha madrugada
presa aos ponteiros do infinito

sopra uma suavidade nova
na frescura dos olhos
deve ser assim que se entra no paraíso
com os passos aveludados e aéreos