domingo, 17 de outubro de 2010

o verde vale


a árvore e o abismo
eis a equação perfeita
da renúncia

não subirei mais
o tempo acima
para abraçar nuvens
e outras maravilhas

o tempo levou-te
para o largo horizonte
da partida

já na paisagem não me incluis
tudo que fui cessou
pobre lamparina rústica

cedo ardeu o sangue
na espera consentida
sem ti a noite 
tem-se cumprido nas sombras
em redor veleja a vida
e não a compreendo assim tão muda

tudo parece ter perdido a voz
até o rumor dos ramos
perdeu a toada festiva

até a chuva se verte agora por dentro
sem a cadência proibida
e nada mais me é audível

só a renúncia
me vem rasgar a carne
a renúncia a tudo que antes
era possível vislumbrar no verde vale