passos no deserto como fundas vozes
o ventre das areias abre-se em leque
um remoinho de rosas libertadas
ritualmente leves as palavras
pois na eternidade dos gestos
reside a morte
a areia range os dentes
um homem fundeia o seu nome
sobre a duna e foge
é um raio de luz
de um astro antigo
a secura dos cactos
escurece a paisagem
nada no deserto permanece
a não ser a solidão
e grãos de memória indeléveis no ar
como fibras de entropia
partículas aceleradas de dor
e algumas alegrias
fui fonte
e feto e fantasia
secreto-me com todas as luzes e suas
estranhas elegias
enamoradamente
ainda pousas, ó ave perdida,
onde antes (a)ninhei teu coração
e tua ferida
mas sempre te caminhei
nunca a minha fuga foi vivida
a não ser pela demanda
do silêncio em teus lábios
morna, depois fria
e enfim,
vencida
mas todas as ânforas
cheias e a casa rubra
ainda reúnem pedra e cobre
ar e espuma
sou um lugar vencido
que ainda luta
uma vida que se eleva
quando finda
um sentir que pulsa
na imensa mansidão da chuva