está frio. adensa-se o Inverno em nossos ossos, estremeço-te nos braços à chegada, trago a noite escura, de alcatrão húmido, na frestas dos olhos, venho febril e ébria de ti. abafa-se cá dentro, o mundo é quente onde tu estás. podemos continur abraçados com a religiosidade que o encontro nos merece, ou podemos ficar tensos e inertes frente a frente, com a palavra e o beijo nos lábios. somos dois estranhos que se aproximaram demais num tão perto que nos causa estranheza, quando de facto ombreamos. eu prefiro manter-me colada ti, não te largo equanto andas pela sala a pretextos vários. gosto de ouvir a tua voz, as pausas que fazes entre linhas e abraços, agrada-me quando suspendes uma palavra para me dares um beijo, agrada-me o tom das tuas mãos se as elevas ao alto para um ponto discursivo que só as grandes causas alcançam. tu és um homem de causas eu... a minha causa és tu.
imagina que há um dilúvio no mundo e que claraboia tilinta já a violência da chuva. somos um leito, os nossos olhos já se aleitam um no outro, apetece um vinho quente e o rubor do riso, já tantas vezes te disse que temos de passar pela escanção da palavra e só depois de nos embrenharmos no riso calado, aquele que nasce interno e nunca sai, a não ser para se pendurar no próprio mexer dos lábios, só depois vem o acetinado desejo, as águas densas de Maio, o cair laminar da chuva em arrepios de voracidade. imagina. tu nem sequer tocaste no vinho, mas bebes-me, levas-me aos lábios e sorves-me, passas a língua pelo palto, esperas - apetece-te que me cale, ou então que te segrede tudo mais perto, de preferência onde as palavras se enrolem nos ouvidos e te erotizem a pele. imagina. um sofá desmaiado entre nós, um só lugar na noite, a viagem a partir para dentro, cada vez mais para dentro de nós, queres-me meter na tua pele, vamso para perto, onde os corpos tinem e os lábios bebem o que podem. silêncio chuvoso e felino. começa a noite aguda e encrespada, bem pode a chuva desmandar em grossa borrasca e tempestade, pode a infernal cantoria vir juntar-se-nos, que a cadência e o rumo dos nossos abraços, seguirá na corrente volumosa da demência. quero-te no cume dos meus seios onde toda a diferença no amor se produz, emerge-me para a superfície, e que a doce lava venha fluir e engrandecer o corpo, que toda a extensão de ti se ereja em meu sustento, quero. imagina como me branqueias o pensamento, começa devagar, à medida que o sangue ruboriza e se concentra no fundo do corpo. onde tu estás a noite é doce. imagina. eu contraída ainda, tu ressalvando toda a minha pele em prece de quebranto... estou longe, longe, o mundo mudou-se e só nos permanecemos, que a chuva se mantenha até ser dia e a nossa noite assim se suplante ao próprio reino da mais férica fantasia. imagina. o lume dentro, a tua face acercada por mim, as mãos a tocar o rosto, no valado do corpo, entre a espiral que te emerge, as mãos a chegarem aos teus lábios, a silenciar a prece e o rumor, cala-te, imagina.
imagina que há um dilúvio no mundo e que claraboia tilinta já a violência da chuva. somos um leito, os nossos olhos já se aleitam um no outro, apetece um vinho quente e o rubor do riso, já tantas vezes te disse que temos de passar pela escanção da palavra e só depois de nos embrenharmos no riso calado, aquele que nasce interno e nunca sai, a não ser para se pendurar no próprio mexer dos lábios, só depois vem o acetinado desejo, as águas densas de Maio, o cair laminar da chuva em arrepios de voracidade. imagina. tu nem sequer tocaste no vinho, mas bebes-me, levas-me aos lábios e sorves-me, passas a língua pelo palto, esperas - apetece-te que me cale, ou então que te segrede tudo mais perto, de preferência onde as palavras se enrolem nos ouvidos e te erotizem a pele. imagina. um sofá desmaiado entre nós, um só lugar na noite, a viagem a partir para dentro, cada vez mais para dentro de nós, queres-me meter na tua pele, vamso para perto, onde os corpos tinem e os lábios bebem o que podem. silêncio chuvoso e felino. começa a noite aguda e encrespada, bem pode a chuva desmandar em grossa borrasca e tempestade, pode a infernal cantoria vir juntar-se-nos, que a cadência e o rumo dos nossos abraços, seguirá na corrente volumosa da demência. quero-te no cume dos meus seios onde toda a diferença no amor se produz, emerge-me para a superfície, e que a doce lava venha fluir e engrandecer o corpo, que toda a extensão de ti se ereja em meu sustento, quero. imagina como me branqueias o pensamento, começa devagar, à medida que o sangue ruboriza e se concentra no fundo do corpo. onde tu estás a noite é doce. imagina. eu contraída ainda, tu ressalvando toda a minha pele em prece de quebranto... estou longe, longe, o mundo mudou-se e só nos permanecemos, que a chuva se mantenha até ser dia e a nossa noite assim se suplante ao próprio reino da mais férica fantasia. imagina. o lume dentro, a tua face acercada por mim, as mãos a tocar o rosto, no valado do corpo, entre a espiral que te emerge, as mãos a chegarem aos teus lábios, a silenciar a prece e o rumor, cala-te, imagina.
(beijo imenso de boa noite...)